Lorics Brasil entrevista a tradutora Débora Isidoro

A equipe do Lorics Brasil descolou uma entrevista exclusiva com a Débora Isidoro, tradutora da Intrínseca conhecida pelo trabalho nos livros da série Os Legados de Lorien, de Pittacus Lore, e na coleção de Rick Riordan, "As Crônicas dos Kane". Nela, a tradutora fala sobre como é a sua profissão, a importância e as maravilhas que ela traz aos fãs de literatura e como é todo o processo na hora de passar para a linguagem nacional. Não deixe de conferir:

Primeiramente, a equipe de Lorics Brasil gostaría de agradecer pela disponibilidade para essa entrevista...
Disponham, é sempre um prazer.

- Como tradutora de vários idiomas, de onde surgiu essa paixão pelas palavras?
Acho que a paixão veio do gosto pela leitura, do hábito de ler. Depois veio o interesse pelo estudo de alguns idiomas, e as duas coisas se associaram naturalmente.

- Quais idiomas você domina e quais você aplica em seus trabalhos profissionais de tradução?
Estudei inglês, francês e espanhol, já trabalhei com os três, mas, atualmente, por questões de demanda do mercado, mesmo, tenho trabalhado só com o inglês.

- Bom, como é o processo de tradução de um livro?
Cada tradutor tem seu método de trabalho. Alguns preferem ler antes de começar a tradução. Eu acho mais interessante começar a tradução sem ter lido previamente, porque fico mais atenta ao desenrolar da história e mais interessada. Depois, sim, reler a tradução e revisá-la.

- Você, praticamente, traduz a maioria dos livros lançados pela Intrínseca? Em média, quantos livros você já traduziu?
Não, eu nem traduzi tanta coisa assim para a Intrínseca! Que eu lembre agora, traduzi um livro da série Crepúsculo (Bree Tanner), a série As crônicas dos Kane, a série Os Legados de Lorien, e um livro da série Sussurro. A Intrínseca tem muitos tradutores, todos muito bons, não chego nem perto de ter traduzido a maioria dos títulos da editora. Não sei dizer quantos livros já traduzi, porque comecei em 1989 e já passei por muitas editoras, mas nesses 23 anos eu calculo que foram algumas centenas de títulos.

- Houve algum aspecto particularmente difícil ou problemático, na tarefa de traduzir algum livro da série Os Legados de Lorien?
Não, nenhum. A série é uma delícia, os originais são muito bem-escritos, é tudo muito tranquilo e gostoso de fazer. E o pessoal do editorial da Intrínseca é sempre muito disponível e prestativo.

- A série tem muitos aspectos da ficção científica... Algum elemento científico ou tecnológico deu trabalho? Você acha que ter familiaridade com a ficção científica como gênero é importante para esse tipo de tradução, ou ela pode ser encarada como uma tradução literária qualquer?
Sempre que você começa um trabalho de tradução literária é necessário se familiarizar com o tema e ir procurando informações e detalhes na medida em que desenvolve esse trabalho. Ninguém é especialista em todos os assuntos. No caso dessa série, especificamente, os editores e eu vamos trabalhando em conjunto e criando um vocabulário que é próprio da série, já que é uma obra de ficção, e os elementos que você chama de científicos ou tecnológicos foram criados pelo autor. Não posso falar com muita propriedade sobre o gênero ficção científica, mas imagino que seja necessário, sim, se apropriar do jargão e estudar um pouco o tema, como em qualquer outro gênero.

- Cada autor tem um estilo diferente de escrever cada livro. Como se faz para resguardar a alma do autor em uma obra e, ao mesmo tempo, transpô-la para um português que não soe artificial?
Resguardar o estilo do autor é a principal responsabilidade do tradutor. Acho que é necessário estar sempre atento para escapar da armadilha da vaidade. A obra já foi criada, já tem um dono, e o tradutor é só o instrumento para que mais pessoas tenham acesso a essa obra em mais lugares. Preservando sempre a intenção e o estilo do autor, o tradutor tem que estar atento ao público para o qual aquela obra foi escrita, faixa etária, interesses, e procurar adequar a linguagem àquela usada por esse público. Acho que é isso que garante a naturalidade.

- O seu trabalho na série mostrou que a tradução é, praticamente, uma criação literária. Mas o tradutor é considerado um autor, no Brasil?
O tradutor não é um autor, nem a tradução é uma criação literária. Quem cria a obra é o autor, o tradutor é a ferramenta pela qual mais pessoas poderão ter acesso a essa obra. Tradução e criação literária são coisas completamente diferentes.

- Segundo informações já divulgadas, a série Os Legados de Lorien terá mais um livro spin-off e mais um na série principal (A Ascensão do Nove). Seu processo de tradução para estes livros já começou? Como funciona a preparação para isso?
Sim, os livros já estão em processo de tradução. Não existe uma preparação, o que existe é a necessidade de estar atento à continuidade, já que é uma série, e preservar o vocabulário que já vem sendo adotado desde o primeiro livro. Para isso, o pessoal do editorial prepara uma “bula”, um conjunto de regras e normas que deve ser seguido para que exista uma uniformidade, que vai sendo atualizada a cada livro.

- Você tem um livro preferido na série? :)
Sim, o primeiro, mas por um motivo muito pessoal: O começo de Eu sou o Número Quatro foi meu teste de tradução na Intrínseca, e eu me lembro de ter pensado que seria muito legal traduzir o livro inteiro, porque parecia ser muito interessante. Foi muito legal poder traduzir não só esse livro, mas a série inteira.

- Qual é a dificuldade de traduzir nomes próprios e palavras inventadas pelo autor? Como exemplo, o nome dos vilões, que, em inglês, é Mogadorians e você traduziu como Mogadorianos.
Isso é decidido com a editora. Eu sugiro o que acho que soa melhor na hora em que estou traduzindo, e depois os editores me avisam se a sugestão foi acatada ou se houve alguma alteração, e daí em diante o nome escolhido é mantido ao longo da série, passa a fazer parte da “bula” que deve ser acatada e respeitada. Na verdade, como as palavras são inventadas, eu acabo escolhendo meio que “de ouvido”, pensando no que vai soar mais interessante na hora da leitura.

- Qual é a grande questão que o tradutor enfrenta hoje, no país?
Não sei escolher A grande questão, são muitas! Existem questões de regulamentação, questões fiscais, questões da rotina diária do profissional, e elas vão desde a solidão do escritório em casa à possibilidade de discussão de dúvidas e práticas em comunidades virtuais e redes sociais onde se formam grupos de profissionais, uso de CATs, que são ferramentas de tradução que alguns adotam e outros não, enfim... Acho que, por ser uma profissão solitária por natureza, cada tradutor tem a sua grande questão.

- Para quem quer seguir esta profissão, é preciso ter talento, estudar muito ou apenas ter força de vontade? Quais dicas você daria para os jovens adolescentes que estão começando a traduzir livros?
Como em qualquer profissão, talento e interesse são fundamentais. Tradução exige estudo constante, não só da técnica ou do “como” traduzir, mas do assunto que está em tradução. Cada novo livro é um recomeço, é uma nova pesquisa, mais um corpo de conhecimento que vai se formar ou desenvolver. Portanto, força de vontade e dedicação também entram na receita. Disciplina, gostar de ler e ter sempre em mente que, quando você é tradutor, não lê apenas por prazer, nem sempre escolhe o que lê e traduz, mas precisa descobrir o prazer da leitura em cada obra que chega à sua mesa de trabalho. Sem esse interesse e essa paixão renovada pela leitura, a técnica pode ser perfeita, a gramática pode ser impecável, mas a obra traduzida não vai ter aquele “tempero”, aquele “carinho” que o autor deu a ela ao criá-la.

- Para finalizar, poderia deixar um recado para os visitantes do Lorics Brasil?
Espero que todos gostem muito do que ainda está por vir, e preparem-se, porque lorienos e mogadorianos ainda estão entre nós e têm muita história pra contar!

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